Dilma mantém discurso de que impeachment é golpe
A presidente afastada, Dilma Rousseff, assegurou que "resistirá", como há 46 anos, quando foi julgada na ditadura, e pediu ao Senado que impeça o seu impeachment, mencionando os 54 milhões de votos que a levaram ao poder.
Em seu discurso de mais de 40 minutos, Dilma definiu o presidente interino Michel Temer como "usurpador" e falou de covardia, deslealdade, injustiça e honestidade.
"Não esperem de mim o silêncio dos covardes", enfatizou.
- Governo usurpador -
Dilma, 68 anos, afirmou que sua destituição definitiva é um "pretexto" para dar lugar ao "governo usurpador" de seu vice, Michel Temer.
"São pretextos para viabilizar um golpe na Constituição. Um golpe que, se consumado, resultará na eleição indireta de um governo usurpador.
A eleição indireta de um governo que, já na sua interinidade, não tem mulheres comandando seus ministérios, quando o povo, nas urnas, escolheu uma mulher para comandar o país. Um governo que dispensa os negros na sua composição ministerial e já revelou um profundo desprezo pelo programa escolhido pelo povo em 2014. (...) Fui eleita presidenta por 54 milhões e meio de votos para cumprir um programa cuja síntese está gravada nas palavras 'nenhum direito a menos'.
O que está em jogo no processo de impeachment não é apenas o meu mandato. O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição".
Aproveitou para novamente promover um referendo sobre o futuro político do país.
"Chego à última etapa desse processo comprometida com a realização de uma demanda da maioria dos brasileiros: convocá-los a decidir, nas urnas, sobre o futuro de nosso País. Diálogo, participação e voto direto e livre são as melhores armas que temos para a preservação da democracia".
- Sem crime -
A presidente afastada negou enfaticamente os crimes pelos quais é acusada.
"Venho para olhar diretamente nos olhos de Vossas Excelências, e dizer, com a serenidade dos que nada tem a esconder que não cometi nenhum crime de responsabilidade. Não cometi os crimes dos quais sou acusada injusta e arbitrariamente".
"(...) diante das acusações que contra mim são dirigidas neste processo, não posso deixar de sentir, na boca, novamente, o gosto áspero e amargo da injustiça".
- Tortura -
Dilma disse que respeita quem a julga, os senadores, e indicou que não guardará rancor em relação a quem votar a favor do impeachment.
"Entre os meus defeitos não está a deslealdade e a covardia. Não traio os compromissos que assumo, os princípios que defendo ou os que lutam ao meu lado. Na luta contra a ditadura, recebi no meu corpo as marcas da tortura. Amarguei por anos o sofrimento da prisão".
"Apesar de receber o peso da injustiça nos meus ombros, continuei lutando pela democracia (...) Disso tenho orgulho. Quem acredita, luta. Aos quase 70 anos de idade, não seria agora, após ser mãe e avó, que abdicaria dos princípios que sempre me guiaram", assegurou.