Protetor solar funciona, mas pessoas aplicam errado, alertam cientistas
RIO — A exposição à radiação ultravioleta é a principal causa de câncer de pele, mas ela pode ser evitada com o uso de protetores solares. E a aplicação correta do produto é essencial para evitar danos ao DNA, alerta estudo publicado nesta quarta-feira no periódico “Acta Dermato-Venereology”. Nos testes dos fabricantes, dizem os pesquisadores, é aplicada uma camada de 2 miligramas por centímetro quadrado para alcançar o fator de proteção indicado, uma quantidade difícil de mensurar. E o uso típico é de apenas 0,75 mg/cm². — A maioria das pessoas não aplica essa quantidade, ninguém quer se empastar, e o filtro solar ainda é caro no Brasil — afirma Sílvia Schmidt, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia. — É fácil para as fabricantes testarem em laboratório, mas medir essa quantidade no dia a dia é muito complicado.
No experimento, os pesquisadores da Universidade King’s College London dividiram 16 voluntários de pele branca em dois grupos, com três mulheres e cinco homens cada. Um dos grupos passou por apenas uma exposição à radiação, enquanto o outro passou por exposições em cinco dias consecutivos. Todos cobriram partes da pele com diferentes quantidades de filtro — 0,75 mg/cm², 1,3 mg/cm² e 2 mg/cm² — e deixaram um pedaço sem proteção.
DANOS CONSIDERÁVEIS AO DNA
No grupo que recebeu mais de uma exposição, os níveis de radiação foram em diferentes níveis de intensidade, para simular condições em destinos turísticos comuns entre os britânicos, como Tenerife, Flórida e São Paulo. Para avaliar a proteção, os pesquisadores retiraram pequenas amostras de pele de cada área exposta de cada um dos participantes para a realização de biópsias.
Os resultados mostram danos consideráveis ao DNA em áreas que não receberam filtro solar no grupo que recebeu múltiplas exposições, mesmo com níveis de radiação baixos. Com 0,75 mg/cm², os danos foram reduzidos, mas a proteção com 2mg/cm² foi substancialmente maior, mesmo com doses mais altas de radiação ultravioleta.
Os pesquisadores destacam que cinco dias de exposição com altas doses de radiação ultravioleta, com camada de 2 mg/cm², mostrou menos danos ao DNA da pele que apenas um dia com baixa dose de radiação sem proteção em todos os participantes. Para Antony Young, autor principal do estudo, os resultados reforçam a eficácia dos protetores solares.
— Não há discussão sobre a importante proteção que os filtros solares fornecem contra o câncer causado pelo impacto dos raios ultravioletas do Sol — conclui Young. — Entretanto, o que esta pesquisa mostra é que a forma como o protetor é aplicado tem papel importante na sua eficiência.
RECOMENDA-SE REAPLICAR PRODUTO CONSTANTEMENTE
No laboratório, aplicar a quantidade recomendada pelos fabricantes é simples. Como a área de testes na pele foi delimitada em zonas de cinco por sete centímetros, bastava pesar 70 miligramas de protetor e aplicar da forma mais homogênea possível. Mas no dia a dia, essa medição é inviável. Por isso, a recomendação é usar filtros com fatores de proteção altos e reaplicar o produto constantemente.
— Existe o mito de que o filtro com fator de proteção 15 já é suficiente. Em teoria, sim, mas na prática é inviável seguir o uso correto. Por isso, é recomendável o uso de filtros com fatores de proteção maiores, de 30 ou 50 — alerta Sílvia. — E não esquecer de reaplicar, principalmente em passeios na praia.